Maria Profetiza

Existem profetas também na era cristã ? A vinda dos segredos em Medjugorje não nos faria pensar em uma inclinação apocalíptica típica dos movimentos milenaristas ? Me faço esta pergunta inquietante, e acho ter encontrado resposta melhor em uma entrevista teológica que Niels Christian Hvidt fez com relação aos profetas para o cardeal Joseph Ratzinger.

Niels recorda que a Igreja é fundada sobre os apóstolos e sobre os profetas e que estes últimos são os profetas da Igreja, não somente aos antigos profetas da Bíblia. É muito importante destacar que o profeta não é apocalíptico, não descreve a realidade última, mas ajuda a viver a fé com esperança. O profeta não é um adivinho mas é aquele que vive face a face com Deus, com sua Presença Viva, porque Deus não se reduz a um tesouro revelado de maneira absolutamente completa, mas é Vivo e continua a intervir na história da humanidade.

Assim a Igreja, explica o cardeal Ratzinger, se defronta com os desafios que lhe são próprios graças ao Espírito Santo que, no momento mais crucial, abre a porta para intervir. A história da Igreja nos fornece muitos exemplos de grandes personagens como Gregório Magno e Santo Agostinho que também foram profetas.

Mas a maior figura de profecia, explica Ratzinger, é Nossa Senhora: "Uma antiga tradição patricarca que chama Maria não de sacerdotisa, mas de profetiza. O título de profetiza, na tradição patriarca é, por excelência, o título de Maria. É em Maria que as capacidades de escutar, perceber a realidade espiritual que consente em perceber o murmúrio imperceptivel do Espírito Santo, assimilando-o e fecundando-o e oferecendo-o ao mundo. Se pode dizer em um certo sentido que de fato Maria encarna  caráter profético da Igreja. Maria é sempre vista pelos padres da Igreja como o arquétipo dos profetas cristãos.

De fato o que é o Magnificat cantado entusiasticamente pela menina de Nazaré do que uma imensa profecia ? Sua tarefa continua recebida por Jesus Cristo continua pelos séculos. O padre Gabriele Amorth recorda àqueles que ironizam tantas mensagens deixadas em Medjugorje: "Para aqueles que dizem: PORQUE MARIA SANTISSIMA QUE NO EVANGELHO FALA TÃO POUCO, GASTA FALANDO TANTAS HORAS ? Eles se esquecem da nova missão que Jesus Cristo confiou a Maria sobre a Cruz: Mãe de todos os homens e de todos os povos. É indubitavelmente nestes momentos cruciais para a humanidade que a Mãe fala a todos os homens e a todos os povos".

Certamente a apaixonante e materna invasão profética de Maria se multiplicaram com a Revolução Francesa e nos tempos modernos.De modo particular ganharam evidência as aparições da Medalha Milagrosa (1830), La Salette (1846), Lourdes (1958), Fátima (1917) e Medjugorje (1981). Acentuando-se nas duas últimas aparições, também a natureza da mensagem explícita a humanidade, de apelo a conversão e de profecia declarada.

Em Medjugorje, pode-se fazer duas referências bíblicas. O primeiro é sugerido pelo padre Renée Laurentin: "Nas mensagens de Medjugorje existe uma constante chamada as primeiras palavras do Evangelho, à pregação de João Batista, que a grande voz, sem cansar-se pede a conversão mais radical a Deus. E as aparições iniciaram-se em 24 de junho de 1981, dia de sua festa". A segunda referência Bíblica é sugerida pelo padre Lívio Faznaga: "O número dos segredos dados pela Rainha da Paz, nos traz a memória as dez pragas do Egito. Mas se trata de uma aproximação arriscada porque um dos segredos (o terceiro) não é um castigo, mas um sinal divino de salvação".

É o acontecimento das pragas do Egito que inicia a liberação do povo de Israel da escravidão. Com efeito, os dez segredos de Medjugorje se assemelham as dez pragas de Moisés no Egito, as visões simbólicas dos segredos de Fátima e ao segredo de La Salette.

Todavia não significa que as visões proféticas de cenas horríveis e dolorosas de um vidente sejam necessariamente simbólicas. A história nos mostra que podem ser totalmente reais. Assim aconteceu em Fátima e aconteceu recentemente em Kibeho, cidade da Rwanda, onde Nossa Senhora apareceu por oito anos - de 1981 a 1989 - a cinco estudantes convidando à conversão, ao arrependimento e à oração para evitar os horrores que aconteceriam devido ao ódio étnico.

Em 15 de agosto de 1982, por oito horas, aos videntes, em torno de 20 mil pessoas reunidas, Nossa Senhora mostrou imagens terríveis: rios de sangue, pessoas que se matavam umas as outras, fogo em todo lugar, cadáveres abandonados, corpos decapitados". Assim anotava o padre Mandron. "Padre Mandron não compreendia nada daquilo que escrevia. Os leitores, assustados com estes acontecimentos perguntavam-se se o padre não tinha dramatizado as visões mas o drama se realizou ao pé da letra pouco depois do término da aparição" comenta o padre Renée Laurentin.

O genocídio de Ruanda, em 1994 aconteceu exatamente como previsto. Deveriam ter ouvido o apelo materno que a Virgem dirige ao povo durante a aparição de 15 de agosto de 1992. Nossa Senhora apresentou-se como Mãe do Verbo (Nyina wa Jambo) e disse: "Virá um tempo em que desejareis rezar, arrepender-se e obedecer, sem a possibilidade de fazê-lo, a menos que comeceis a fazê-lo agora neste momento, arrependendo-se e fazendo tudo aquilo que peço a vós".

As aparições em Rwanda foram oficialmente reconhecidas pelo bispo em 29 de junho de 2001 quando a trágica profecia já havia sido realizada. em Kibeho, Nossa Senhora lança um apelo ao mundo inteiro: "O mundo vai mal.. o mundo corre em direção a sua ruína, está para cair em um abismo. O mundo está em rebelião contra Deus, cometendo muitos pecados, não existe mais amor nem paz.. se não arrependerem-se e converterem os vossos corações, caireis todos em um abismo".

Também com relação aos segredos de Medjugorje, como no caso das pragas do Egito, o povo de Deus é destinado a ser poupado. Os videntes de Medjugorje insistem em dizer que: "Aqueles que tem fé não tem nada a temer, não precisam ter medo". E quando a Virgem convida-nos a rezar pelos que não acreditam todos os dias "porque não são aqueles que A ouvem". A Virgem nos repete em Medjugorje: "Não pensem nos segredos. Pensem em converterem-se".

Adaptado do livro Mistero Medjugorje - Antonio Socci - 2005